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blogue do Mestrado em Planeamento Regional e Urbano da Universidade de Aveiro
Program of the 11th meeting
2nd & 3rd of May 2013
University of Aveiro, Department of Social, Political and Territorial Sciences
(venue: Senate Room / Sala do Senado)
Thursday, the 2nd of May:
14.00 h Welcome by Paulo Silva (chair organizing committee)
14.10 h Opening speech
14.30 h 1st set of papers
Ulysses Sengupta, Eric Cheung
Incorporating Informal Patterns: New Computational Approaches aimed at Integration of Socio-Spatial and Temporal Aspects of Self Organisation in Mumbai, within Future Co-ordinated Planning Strategies
Jenni Partanen
Empirical Indicators for Self-Organisation
Jorge Batista e Silva, José Antunes Ferreira
Intelligent cities and intelligent plans: how to foster self-organisation?
16.00 h coffee break
16.30 h 2nd set of papers
Beitske Boonstra
Co-housing as self-organisation in spatial development: mapping the trajectories of becoming of four Danish co-housing initiatives
Ward Rauws, Gert de Roo
Cohousing, self-organization in Dutch urban planning practice?
José Carlos Mota
The added value of city civic movements in local spatial planning policies: Discussing the case of Aveiro, Portugal
Oswald Devisch, Oscar Rommens, Joris Van Reusel
Towards a culture of urban improvisation – reconstructions of the interplay of private and public initiatives in spatial transformation processes
18.30 h Closing
Friday, the 3rd of May:
09.00 h 3rd set of papers
Sara Levy, Karel Martens, Rob van der Heijden
Networks, Markets and Hierarchies: how different governance modes organize urban development
Matthias Loepfe, Christina Zweifel, Lineo Devechi
On emergence and power of strategies: exploring the relations between strategic planning and urban development in Switzerland
Helena Farrall, Lia Vasconcelos
Planning for Urban Panarchy or Panarchy in Urban Planning?
10.30 h coffee break
11.00 h Keynote
Keynote speaker prof. Francis Heylighen
12.30 h lunch break
13.30 h 4th set of presentations
Sharon Ackerman
Applying principles from Complex Adaptive Systems theory towards urban planning strategies: A test case that replaces the design of urban objects with the choreography of urban processes.
Paulo Silva
Spatial planning systems: emergence and co-evolution involving illegal settlers, institutional, planning and spatial design
Sara Levy, Karel Martens, Rob van der Heijden
Just a little patience: an agent-based model of the effect of a planning institution on residential patterns
Kyunghyun Baek
Urban Design as a multi-actors involved incremental process: a complex theories (self-organisation) perspective
15.30 h Closing session and drinks
more information: Paulo Silva (paulosilva@ua.pt)
Nos últimos dois anos, temos frequentemente escutado, por parte dos governantes nacionais, inúmeros discursos em louvor do campo. Estes têm enfatizado tanto a necessidade de revitalizar uma parte do território que fomos perdendo e desqualificando, paradoxalmente devido à negligência política, como impelido os jovens a regressar à atividade agrícola, apresentada quase sempre como dura, mas digna e nobre, numa altura em que se reduzem os apoios no âmbito da Política Agrícola Comum e em que não existe (uma vez mais devido à negligência política) uma estratégia nacional para o desenvolvimento da agricultura e do mundo rural.
É fácil inscrever tais discursos em outras ideologias de um passado ainda (lamentavelmente) recente – o conservadorismo ruralista de Salazar e do Estado Novo. É fácil também conotar tais discursos com os tempos de miséria económica e social que a vida no campo representava e que as gerações mais idosas ainda carregam seguramente no corpo e na memória. Apesar disso, tais discursos merecem alguma reflexão, sobretudo por parte de quem planeia o território, pelas oportunidades e pelos constrangimentos que poderão representar, numa época de crise e num mundo rural estruturalmente em crise.
A chamada crise do mundo rural é antiga, em muitas regiões periféricas da Europa, em particular nos países do sul. Esta crise tem sido marcada por uma progressiva dissociação do rural da agricultura, sobretudo evidente nos quase 50% do território nacional que pode ser classificado como rural de baixa densidade. Neste, a atividade agrícola assume um papel económico muito residual e um papel social e de manutenção das paisagens ainda relevante, sobretudo para suprir as necessidades de recreio e lazer da população urbana. Neste, a crise é também de identidade, marcada por perdas populacionais dramáticas e, surpreendentemente, ainda em curso, pelo envelhecimento da população, pela fragilização das estruturas e dinâmicas sociais, pela desestruturação da sua base económica (este rural já não é agrícola, mas ainda não é outra coisa) e pelas crescentes perdas em termos de serviços e equipamentos. Ao mesmo tempo, nas últimas duas ou três décadas, este rural adquiriu novas funções e conheceu uma nova valorização, social e institucional. De lugar de produção passou a lugar de consumo, a lugar que cada vez mais parece encontrar a sua razão de ser nas funções de recreio e de lazer.
No atual cenário de crise global vale a pena também refletir nisto: nesta passagem da produção ao consumo e deste, atualmente e pelo menos nos discursos dos nossos governantes, novamente à produção. Ainda vamos a tempo de recuperar o que fomos desconstruindo? A crise do mundo rural parece poder acentuar-se no quadro da crise financeira e económica mais global, por um lado, porque se trata de um mundo que é cada vez menos rural e cada vez mais construído para os urbanos; por outro lado, porque as áreas mais remotas verão a sua degradação e o seu abandono acentuar-se; finalmente, porque são hoje menores os apoios em termos de estratégias e medidas para o seu desenvolvimento. Bastará o recente louvor do campo para reverter estas tendências?
Em Portugal, não é possível, pelo menos para já, saber quantas pessoas estão efetivamente a regressar ao campo em consequência direta da crise que atravessamos. No entanto, apesar de parecerem ainda residuais, estes movimentos de retorno parecem caracterizar-se por uma grande diversidade. Assim, aparentemente, diferentes pessoas regressam a diferentes áreas rurais, por razões também diferentes. Por um lado, encontramos os urbanos, com maiores recursos financeiros e escolares, que regressam para empreender um novo estilo de vida (e.g. os Novos Povoadores) e novas atividades, frequentemente dirigidas a outros urbanos. Regressam tendencialmente a áreas menos marginalizadas, onde a agricultura apresenta ainda alguma viabilidade, onde a procura turística é uma certeza, onde existem ainda serviços e equipamentos, onde a acessibilidade não é um problema. Desenvolvem atividades relacionadas com o turismo, os produtos agrícolas ‘de qualidade’ e o artesanato ‘de design’.
Por outro lado, encontramos os urbanos menos escolarizados, sem recursos económicos, que ficaram desempregados e procuram nas antigas explorações agrícolas familiares uma garantia de subsistência. Regressam com muita frequência às áreas mais remotas, as mesmas de onde saíram pelas difíceis condições de vida, nos anos 50 e 60, os seus avós ou os seus pais. Regressam sem recursos e excluídos a um mundo rural ele mesmo excluído e marginalizado, onde parece faltar tudo, mesmo os serviços e equipamentos mais básicos. Este regresso representa um retorno a uma atividade agrícola de subsistência, pobre e não subvencionada. Um regresso ao tal passado que enforma alguns discursos políticos de hoje – ser pobrezinho, mas honrado, praticando em duras condições uma atividade sem futuro, num território esquecido.
Diante destes dois cenários (e tendo presente que existirão outros), vale a pena refletir sobre algumas questões comuns: quantas destas pessoas e quantas destas atividades poderão as áreas rurais nacionais efetivamente suportar? Quantas destas pessoas efetivamente se fixarão nestas áreas, quando e se a crise passar e outras oportunidades surgirem nas cidades? Talvez fosse importante pensar nisto antes de louvar o campo e no sentido de encontrar estratégias (finalmente) eficazes de o desenvolver.
Elisabete Figueiredo, socióloga, professora auxiliar no Departamento de Ciências Sociais Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, coordenadora do projeto RURAL MATTERS – Significados do Rural em Portugal – entre as representações sociais, os consumos e as estratégias de desenvolvimento (PTDC/CS-GEO/117967/2010) (elisa@ua.pt)
CANDIDATURAS 1.ª FASE (6-17 MAIO 2013)
Mais informações:
http://www.ua.pt/dcspt/
https://www.facebook.com/DCSPT
CRÓNICA D.A. #03
Frederico Moura e Sá (fredericomsa@ua.pt)
Os centros tradicionais das cidades foram ao longo das últimas décadas perdendo alguma importância. Genericamente, este fenómeno foi particularmente motivado pelo aparecimento de novas centralidades periféricas (cuja competitividade é assegurada sobretudo por níveis superiores de acessibilidade motorizada).
Curiosamente, no centro de Aveiro, este fenómeno não ocorreu da mesma forma, ou pelo menos, não com a mesma intensidade. Isto porque foram surgindo dinâmicas positivas de revitalização que vieram contribuir para o reforço do centro no quadro da cidade alargada. Na verdade, tratou-se de um processo iniciado no final da década de noventa, de afirmação de um “novo centro”, mais alargado (no "arco": Canal do Côjo, Fórum, Praça da República, Rossio e zona da Praça do Peixe), que foi decisivo para o ajustamento do centro às novas dinâmicas de crescimento urbano (associadas em particular à afirmação da Universidade, do turismo e de um novo terciário).
O mais peculiar é que toda esta dinâmica aconteceu deixando de parte os dois elementos que constituem o “ponto nevrálgico” da cidade: a Ponte Praça e o topo poente da Avenida. Apesar do alargado consenso em torno do seu valor estruturante na organização e no funcionamento da cidade, o que se verifica é que estes dois espaços estão em declínio. Na verdade, ao não acompanharem as dinâmicas de transformação e de mudança dos espaços envolventes, estes espaços (pela indefinição do seu papel no novo contexto urbano) constituem hoje uma forte contingência à estruturação e dinamização de todo o centro de Aveiro.
Neste sentido, e ainda que seja necessária melhor articulação com a estrutura urbana e ecológica envolvente (em particular, com a Ria), a afirmação plena do centro de Aveiro, está sobretudo dependente da capacidade de inverter a tendência degenerativa e de perda que marca a Ponte Praça e o topo poente da Avenida. Eles constituem o “centro do centro”, e a sua qualificação é essencial pelo seu valor estruturante, simbólico e funcional, mas também porque assegurará a necessária consolidação e colmatação de todo o espaço central da cidade.
Importa ainda sublinhar que o desenho de uma estratégia alargada de regeneração urbana para o centro de Aveiro exige abordagens complementares que, em síntese, devem promover:
CRÓNICA D.A. #02
(publicado hoje no Diário de Aveiro)
A forma como temos vindo a pensar o futuro do país, o seu desenvolvimento e a identificação de apostas, tem padecido de alguns erros de perspectiva. Primeiro, o facto dos sucessivos governos terem uma fé excessiva nas virtualidades do nível central da condução da política pública, desvalorizando, de forma recorrente, o papel da escala regional e local (cidades e municípios). A essa circunstância acresce uma observação distante da realidade, que tende a tomar o país de forma homogénea, sem valorizar as diferenças e especificidades. Por fim, ao longo da história, a acção pública tem-se apoiado excessivamente nos ciclos repetidos de abundância de recursos públicos (das colónias à Europa), sem uma avaliação atempada sobre a sua utilidade e impacto da sua aplicação; ou seja, sem uma estratégia desenhada a priori. Para além disso, o fácil acesso a financiamento público e privado induziu na sociedade portuguesa e no Estado uma cultura pouco eficiente na gestão dos recursos financeiros.
A crise actual e a falta de recursos financeiros públicos estão a ter um efeito devastador, sobretudo no que concerne à dificuldade do Estado em responder às suas responsabilidades, com consequências significativas na vida da população (habitação, alimentação, saúde, educação e emprego). Contudo, para além dessa incapacidade, assiste-se a outro efeito preocupante: a criação de uma ambiência paralisadora e desresponsabilizadora da acção pública. E se ao nível nacional esse efeito se sente de forma significativa, o efeito à escala local é particularmente preocupante, sobretudo pelo contágio aos actores e dinâmicas locais.
O momento em que vivemos é um desafio à capacidade de liderança nacional nestes tempos atribulados, mas pode ser também uma enorme oportunidade para um novo quadro de relação entre o poder central e o local e uma motivação para os responsáveis autárquicos repensarem a forma como olham para os seus territórios e como constroem políticas públicas municipais.
O planeamento à escala municipal assume, hoje em dia, um papel decisivo na resposta aos desafios da sociedade contemporânea, seja na procura de respostas de proximidade, com uma perspectiva estratégica e de planeamento, seja na capacidade de articular um olhar global com acção local, seja ainda na capacidade de aprofundamento da legitimidade da acção colectiva, através de novas formas de democracia participativa e de promoção de verdadeira cidadania.
Perante o quadro actual de escassez de recursos financeiros públicos, o potencial transformativo dos territórios (em particular das cidades) e do poder local só será concretizado se as lideranças locais forem capazes de mobilizar e articular outros recursos menos escassos que as comunidades dispõem e que nem sempre têm sabido valorizar ou potenciar. Para isso é fundamental conceber um conjunto de políticas articuladas que saibam valorizar o conhecimento científico, técnico e empírico sobre as cidades e os seus recursos, potenciar os espaços físicos devolutos e/ou desaproveitados, sobretudo das suas áreas centrais e históricas, e articular as múltiplas redes de proximidade e as capacidades cívicas e institucionais.
Acontece que os decisores e actores locais têm destes recursos uma visão parcelar ou fragmentada, o que tende a contribuir para a sua desvalorização. Torna-se por isso necessário produzir o seu adequado mapeamento e sistematização para permitir construir colaborativamente uma nova narrativa sobre as questões críticas locais, valorizando esses recursos, e com isso produzir um outro tipo de políticas.
Num momento em que se perspectiva um novo ciclo autárquico, está aqui um importante desafio para afirmar o novo papel da escala local no futuro do país, mas também para criar palcos para novas lideranças locais que tenham capacidade de pensar colectivamente o futuro dos bairros, freguesias, cidades ou municípios, e de ‘fazer melhor com os recursos disponíveis’!
José Carlos Mota (jcmota@ua.pt), investigador e docente no DCSPT – Universidade de Aveiro